-Ah, irmã Laurinda, eu acordei tão cedo hoje!E fiquei pensando, pensando quando tinha meus 13 anos! Tive um namoro com o Justino, e ele vem aqui hoje!
-Pois eu nunca fui amolegada por homem nenhum! Já nasci com a vocação de ser freira! Nunca nem um fedorento botou as mão em mim!
-Mas irmã, foi um namoro inocente! A gente era criança! Foi só então que eu vi que meu mundo era aqui, num convento!
-E o que esse homem vai querer contigo? Já falou com a madre superiora para receber esse enviado do satanás?
-Por favor, irmã Laurinda. num fale desse jeito, não! Tô em paz com a minha consciência!
E pouco depois, a irmã Carmosa recebia a visita do Justino, um traficante que nunca esqueceu o namoro de criança.
-Carmosa, minha beleza, mas tu tá só o pitéu com esse traje aí de irmã de caridade! Sabia que eu vim saber que tu era freira um dia desse?
-Mas como vai sua vida? Eu acho que vai indo muito boa! Afinal, você sempre teve um coração tão grande!
-Mas já tô melhor! Tô tomando muito remédio e o “relógio”, digo, o coração parou de inchar, de crescer! Mas eu trouxe um presentim pra tu!
-Oh, Justino, você sempre carinhoso! Mas o que significa essas plantas? Nós temos uns carneirinhos e uns bodes! Será que eles podem comer isso?
-Só pode, meu ex-amor! Eu sabia que tu tratava dos carneirim e dos bode aqui do convento!
A freira recebeu a planta sem saber que era maconha. E, juntamente com a irmã Laurinda, efetuaram uma plantação de maconha no interior do convento.
-Veja só, irmã Laurinda! Os carneirim num param de comer as plantinhas! Ai, como eu estou alegre em poder dar o bom e do melhor para os animais!
-E os meus bodes quando provam dessa planta ficam querendo dançar forró, atacando as ovelhas!
-Eles ficam tudim alegre, tem um que quer me agarrar!
E quando os moradores da redondeza pediam a maconha para fazer chá, as freiras, inocentes, davam no ato. E quem recebia agradecia e ainda tecia considerações:
-Eu tava com essa perna que num podia nem trsicar! É só tomar esse chá que faço até pular e num sinto nada!
-Em mim dá vontade é de agarrar ainda mais o meu marido!
E na boca de fumo do Mascote, o malaca falava para os amigos.
-Pois é, camarada! A mulher num quis nada mais com minha pessoa! Ai, noves fora e tal me trocou pelo convento! Eu fui lá e entreguei maconha pras otária plantar!
E com o passar dos dias, os bichos que comiam da planta endoidavam, o que fez a madre superiora chamar um homem para acabar a plantação.
-Eu tenho até medo de chegar perto daquele bode ali, ó! É o tempo todo com os olhos arregalados pro meu lado!Mas eu já chamei o seu Onofre pra acabar com isso…
Seu Onofre era um policial aposentado. E quando chegou ao convento e olhou a plantação de maconha, não quis acreditar.
- Como foi que essa maconha entrou aqui?
-Peraí, seu Onofre, o senhor quer dizer que nós somos maconheiras?
As freiras derrubaram o Zé do Prego que foi agarrado no Álvaro Weyne. E aos repórteres, não cansa de falar:
-Eu só fiz isso pra me vingar da ingrata da Carmosa, só isso!
Mesmo perdoado pela religiosa, Zé do Prego foi levado para a Delegacia de Capturas de onde seguirá para o presídio.
Sales Andrade do Diário do Nordeste
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