Vida e paixão do Matias

Matias era mais uma vítima do alcoolismo. E pior ainda: quando bebia  virava gay.
Os amigos mais chegados sabiam do fato, e comentavam na pracinha principal do bairro:
-Olha, mermão, se eu num fosse amigo do Matias eu não estava assim  preocupado!  

-Tá lembrado da última vez que ele bebeu? Cismou de sair como a rainha do Acaracuzinho!
-Mas nunca mais ele andou biritando, isso é o que é mais importante!
-Pois é, depois que arranjou a Valdenora, tá outro!
-Disse pra mim que a bebida não fazia mais a cabeça dele!
E a Valdenora quando via alguém bêbado, falava:
-Ainda bem que o meu Matias já vai fazer cinco anos que abandonou essa desgraça!
A mulher estava enganada. Matias tinha um caso com a Vilma, uma colega de trabalho.
-Vilma, minha flor, tu tá sabendo que meu caso com a Valdenora já minchou!
Por que nós num junta os nossos bregueços e se manda daqui?

A mulher rebateu com um tom de voz forte:
-Quer saber de uma coisa? Vamos encerrar o nosso papo aqui!
Eu acho que o que eu senti por tua pessoa foi só uma paixão de menina do buchão!
-Que é isso, Vilma, pirou de vez?
-Nada não, agora deixa eu ir simbora que já tá ficando muito tarde!
-E como é que a gente fica? Fala alguma coisa!
- Não ficamos mais! Faça de conta que nada aconteceu entre a gente!
Aquele adeus foi uma punhalada na alma apaixonada do Matias.
Ele saiu  atordoado pelas ruas e logo deu de cara com alguns amigos de copo.
Entrou no meio deles virando a cachaça na boca da garrafa. E logo endoidou.
Começou a passar a mão sobre os cabelos de um sujeito que estava no bar.
-Qualé, meu prezado!  Vai logo se afastando porque eu num gosto de macho, não!
-Sabia que tu é o máximo, bofe? Eu gosto de caboco assim que nem tu, ó!
Os dois acabaram se atracando na base de muita porrada. Em seguida, encaminhados à delegacia plantonista.
Matias já está livre. Mas preso a um incontrolável remorso que lhe traz por entre lágrimas
belas recordações do tempo em que permaneceu sóbrio.

Sales Andrade do Diário do Nordeste