terça-feira, 23 de agosto de 2011

Confrontos violentos cercam complexo de Kadafi em Trípoli

Os rebeldes da Líbia conseguiram entrar no primeiro portão do complexo militar de Bab Al-Aziziyah, onde também fica a residência do ditador Muamar Kadafi, informou a rede de TV catariana Al Jazeera. Até o momento, porém, não há confirmação por parte do regime ou mesmo dos opositores sobre a invasão do complexo. Mais cedo, os rebeldes já haviam cercado o complexo militar, um dos últimos bastiões da resistência de Kadafi. O canal relatou que os rebeldes líbios atacaram os portões do complexo e estão tentando invadir o local.
Aviões da Otan sobrevoavam a capital, cenário de diversas disputas entre os rebeldes e as forças leais a Kadafi em bairros próximos ao hotel Rixos, onde estão hospedados pelo menos 30 jornalistas estrangeiros. O edifício do hotel, próximo ao quartel-general do ditador, estremeceu às 9 horas (6 horas de Brasília) após uma forte explosão nas proximidades, o que criou uma onda de pânico entre os repórteres, que se refugiaram no subsolo. Soldados do regime protegiam o hotel Rixos, que permanecia sem água ou energia elétrica.
Para aumentar ainda mais a tensão no país, Saif al-Islam, influente filho de Kadafi, reapareceu na madrugada desta terça-feira para desmentir sua prisão e reforçar a sensação de grande confusão que reina em Trípoli, controlada em sua maior parte pelos rebeldes, que proclamaram o fim da era Kadafi. "Trípoli está sob nosso controle. Todo mundo pode ficar tranquilo. Tudo está bem em Trípoli", declarou Saif al-Islam, apresentado como sucessor e porta-voz oficial do regime, aos jornalistas estrangeiros no perímetro de Bab al-Aziziya, o complexo residencial do pai. Ele afirmou ainda que as forças leais ao regime infligiram "elevadas perdas" na segunda-feira aos rebeldes que assaltavam a residência-quartel de Bab al-Aziziya.
Leia também: Mesmo sem Kadafi, Líbia estará longe de uma democracia
Confusão - O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luis Moreno Ocampo, havia confirmado horas antes que recebera informações confidenciais segundo as quais Saif al-Islam, objeto de uma ordem de prisão da corte por crimes contra a humanidade cometidos na Líbia, havia sido detido pelos rebeldes. Nesta terça-feira, porém, o porta-voz do TPI afirmou que o tribunal nunca recebeu uma confirmação sobre a detenção de Saif al-Islam. "Depois do anúncio de ontem, nos comunicamos com o Conselho Nacional de Transição (CNT) para obter a confirmação da detenção, mas jamais recebemos por parte do CNT", declarou à agência de notícias France-Presse o porta-voz Fadi el-Abdallah.
O presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafah Abdel Jalil, também afirmara na segunda-feira ter recebido informações seguras sobre a detenção de Saif al-Islam. Mohamed Kadafi, outro filho do ditador que também teve a prisão anunciada no domingo pelos rebeldes, conseguiu escapar, de acordo com fontes rebeldes em Bengasi.
 
Ataques - Nesta terça-feira, as forças do regime de Kadafi dispararam três mísseis Scud dos arredores de Sirte, reduto do regime, contra Misrata, cidade controlada pelos rebeldes, informou a Otan, que denunciou um "ato irresponsável". "Podemos confirmar as informações relativas ao disparo de três mísseis terra-terra Scud a partir de Sirte", declarou a porta-voz da Otan, Oana Lungescu. "Os mísseis caíram na região costeira de Misrata, a princípio sem provocar vítimas nem danos", completou. "Caíram na região costeira de Misrata, muito provavelmente no mar ou na costa. Não estamos a par de danos ou vítimas".
Na noite de sábado, os rebeldes entraram em Trípoli e controlaram a Praça Verde - lugar simbólico no qual os partidários do regime costumavam se reunir - e a sede da televisão estatal, que não transmitiu sua programação diária. As forças leais a Kadafi, no entanto, ainda resistem em alguns bairros, incluindo Tajura, Suq-Joma e Fashlom. Segundo o Centro de Imprensa dos rebeldes, reforços estão chegando a Trípoli por mar a partir da cidade de Misrata, 200 quilômetros ao leste, para garantir a tomada da capital.


Negociações -
O enviado especial da ONU para a Líbia, Abdel Ilah Jatib, revelou que o regime líbio havia solicitado sua intervenção para negociar antes da ofensiva rebelde de sábado. "Respondi que como mediador buscava o que era aceitável para o outro lado. E o outro lado se nega a negociar qualquer coisa antes da saída de Muamar Kadafi", declarou Jatib, ex-ministro jordaniano das Relações Exteriores ao jornal oficial Ad Destur.

"Os rebeldes foram muito claros: não querem negociar antes de Kadafi ir embora", disse Jatib. "Os dirigentes líbios interpretaram mal e subestimaram a posição internacional, pensando que com o tempo a meima perderia força ou mudaria", destacou Jatib, antes de afirmar que sua missão está perto do fim.
Apelos - O presidente americano, Barack Obama, já dá como certa a queda de Kadafi, assim como a União Europeia. Ambos prometeram ajudar o futuro governo líbio. "O regime de Kadafi está chegando ao fim. O futuro da Líbia está nas mãos de seu povo", declarou Obama na ilha de Martha's Vineyard (Massachusetts, nordeste dos EUA), onde passa férias por alguns dias com a família.
A queda de Trípoli ocorre mais de seis meses depois do início dos protestos populares contra Kadafi no contexto da Primavera Árabe, que já derrubou os presidentes do Egito, Hosni Mubarak, e da Tunísia, Ben Ali.

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