O governo pode até silenciar sobre as revelações de má conduta do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Mas a verdade é que a Polícia Federal (PF) já abriu inquérito para apurar ao menos uma das informações reveladas por VEJA: a PF colheu o depoimento de Israel Leonardo Batista, funcionário do setor de licitações que delatou a atuação de um lobista e uma tentativa de cooptação dentro da pasta. As declarações dele à Polícia Federal só confirmam o que foi publicado pela revista.O site de VEJA teve acesso ao depoimento, tomado na última segunda-feira. Nele, Israel admite ter providenciado uma sala para que o lobista Júlio Fróes despachasse dentro da comissão de licitações do ministério. Confirma que Fróes tinha acesso livre pela entrada privativa do prédio. E diz que o lobista mantinha contato constante com Milton Ortolan, número 2 de Rossi, demitido após a reportagem.
Ortolan, aliás, era chamado de "Chefão 2" por Júlio, de acordo com Israel. O "Chefão 1" era Wagner Rossi. No depoimento, Israel confirma ainda a informação de que Fróes atuou dentro da pasta para garantir que o ministério fechasse um contrato de 10 milhões de reais com a Fundasp, ligada à Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, entidade que ele representava.
Israel afirma que a contratação foi feita com despensa de licitação e se deu em "tempo recorde": cerca de um mês.No depoimento, ele também afirma que Fróes o procurou para que produzisse assinasse documentos que dariam um ar de legalidade à concorrência - que, em tese, tinha a participação de outras duas empresas. A papelada acabou assinada por outro servidor da Agricultura.
A revelação mais grave de Israel diz respeito à tentativa de cooptação. Em dezembro de 2010, ele recebeu uma agenda repleta de notas de 50 reais de Júlio Fróes. Israel acredita que o valor total chegasse a 5 mil. O dinheiro foi devolvido na hora ao lobista, que ainda insistiu para que o funcionário aceitasse a "ajudinha", oferecida porque ele havia orientado Fróes no início da concorrência vencida pela Fundesp. O episódio, também relatado por VEJA, foi confirmado à Polícia Federal.
O ministro Rossi diz nunca ter se reunido com Fróes e alega que já pediu à Controladoria Geral da União (CGU) que investigue o contrato.
O depoimento de Israel mostra que a Polícia Federal entrou no caso de forma rápida - o que pode causar ao governo mais problemas com o PMDB. O partido demonstrou publicamente sua insatisfação com a prisão de integrantes da legenda na Operação Voucher da Polícia Federal, que prendeu 36 pessoas envolvidas em fraudes no Ministério do Turismo.
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