Este texto retirei do blog da Força Tática de Camocim, mais acho que ele diz tudo da vida do policial, ele mostra realmente como estes homens de coragem trabalham e pelo que eles passam diariamente.
Como policial militar, enfrentei o maior choque cultural da minha vida,
ao ter de argumentar com todo tipo de pessoas, do mendigo ao magistrado, entrar
em todo tipo de ambiente, do meretrício ao monastério.
Como policial militar, fui parteiro, quando não dava tempo de levar as
grávidas ao hospital, na madrugada.
Como policial militar, fui psicólogo, quando um colega discutia com a
esposa, diante da incompreensão dela, às vezes, com a profissão do marido.
Como policial militar, fui assistente social, quando tinha de confortar
a mãe de alguma vítima assassinada por não possuir algo de valor que o
assaltante pudesse levar.
Como policial militar, fui borracheiro e mecânico, ao socorrer idosos e
deficientes com pneus furados.
Como policial militar, fui pedreiro, ao participar de mutirões para
reconstruir casas destruídas por enchentes.
Como policial militar, fui paramédico fracassado, ao ver um colega ir a
óbito a bordo da viatura.
Como policial militar, fui paramédico realizado, ao retirar uma espinha
de peixe da garganta de uma criança.
Como policial militar, fui apedrejado por estudantes da mesma escola na
qual estudei e fui professor, por pessoas do mesmo grêmio do qual participei.
Como policial militar, fui obrigado a me tornar gladiador em arenas
repletas de terroristas que são membros de torcidas organizadas, em jogos de
times pelos quais nem torço.
Como policial militar, sobrevivi a cinco graves acidentes com viaturas,
nunca a menos de 120km/h, na ânsia de chegar rápido àquela residência onde a
moça estava sendo estuprada ou na qual um idoso estava sendo espancado.
Como policial militar, fui juiz da vara cível, apaziguando ânimos de
maridos e mulheres exaltados, que após a raiva uniam-se novamente e voltavam-se
contra a polícia.
Como policial militar, fui atropelado numa blitz por um desses cidadãos
que, por medo da polícia, afundou o pé no acelerador e passou por cima de
vários colegas.
Como policial militar, arrisquei-me a contrair vários tipos de doenças,
ao banhar-me com o sangue de vítimas às quais não conhecia, mas que tinha
obrigação de tentar salvar.
Como policial militar, arrisquei contaminar toda a minha família com os
mesmos tipos de doenças, pois, ao chegar em casa, minha esposa era a primeira a
me abraçar, nunca se importando com o cheiro acre de sangue alheio, nem com as
manchas que tinha de lavar do uniforme.
Como policial militar, fui juiz de pequenas causas, quando, em minha
folga, alguns vizinhos me procuravam para resolver seus problemas.
Como policial militar, fui advogado, separando, na hora da prisão, os
verdadeiros delinquentes dos "laranjas", quando poderia tê-los posto
no mesmo "barco".
Como policial militar, fui o homem que quase perdeu a razão, ao flagrar
um pai estuprando uma filha, enquanto a mãe o defendia.
Como policial militar, fui guardião de mortos por horas a fio, sob o
sol, a chuva e a neblina, à espera do rabecão, que, já lotado, encontrava
dificuldade para galgar uma duna mais alta, ou para penetrar numa mata mais
densa.
Como policial militar, fiquei revoltado ao necessitar de um leito para
minha esposa parir e, ao chegar ao hospital da polícia, deparar-me com um
traficante sendo operado por um médico particular.
Como policial militar, fui o cara que mudou todos os hábitos para
sempre, andando em estado de alerta 25 horas por dia, sempre com um olho no
peixe e o outro no gato, confiando desconfiado.
Como policial militar, fui xingado, agredido, discriminado, vaiado,
humilhado, espancado, rejeitado, incompreendido.
Na hora do bônus, esquecido; na hora do ônus, convocado.
Tive de tomar, em frações de segundo, decisões que os julgadores, no
conforto de seus gabinetes, tiveram meses para analisar e julgar.
E mesmo hoje, calejado, ainda me deparo com coisas que me surpreendem,
pois afinal ainda sou humano.
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