sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Engenheiro cearense cria carro que usa quatro combustíveis

O cearense conhece a arte de transformar vento em energia – o estado tem o maior parque eólico do Brasil, com 105 megawatts instalados. Sol, ali, também não falta. Na terra de Expedito Parente, inventor do biodiesel, que morreu nesta semana, o povo sabe ainda a importância de pesquisar combustíveis limpos. Não é surpresa que tenha sido criado lá o "primeiro carro quadriflex do mundo", segundo Fernando Ximenes, 46 anos, inventor da tecnologia. O engenheiro apresenta o veículo na EcoEnergy, uma feira de energia verde que acontece até sábado, em São Paulo.




O modelo funciona com etanol, gasolina, energia solar e eólica (gerada pelo vento). Não é um motor híbrido. Na verdade, o motor é comum, impulsionado somente por etanol e gasolina. As fontes "alternativas" servem para dar uma ajuda a ele – algo que, no fim das contas, reduz o consumo de combustível. O painel solar no teto e as hélices de captação de vento livram o motor de produzir energia para alimentar o ar-condicionado, recarregar a bateria e outras funções. "Testei o carro por 13 mil quilômetros e vi que a economia de combustível pode chegar a 40%", explica Ximenes.
As "turbinas" de vento – provavelmente a inovação mais legal do carro – começam a funcionar quando o "quadriflex" atinge 40km/h. São duas hélices, umas de cada lado do para-choque. Isso porque, se uma delas for danificada num acidente, o outra continuaria dando conta de produzir energia. A empresa de Ximenes, chamada Gram-Eollic, trabalha no ramo da energia eólica desde 1989, com foco na montagem de casas auto-suficientes – ou "produtor independente de energia", como diz o empresário.
O logotipo (abaixo) é outro ponto curioso do veículo – cujo protótipo exibido na feira foi montado sobre a carroceria de um Uno, embora a Fiat não faça parte do projeto. O símbolo, colado na frente do carro, é o mesmo usado há anos pela Gram-Eollic. Mas, quando colocado num para-choque, fica muito parecido com o da Mercedes-Benz. Pior: parece que algo pontudo cutucou o símbolo alemão e fez com que ele tombasse de lado. "Eles não viram, ainda... Mas é capaz da Mercedes gostar", acredita Ximenes.
O engenheiro calcula ter gasto mais de R$ 100 mil na pesquisa para desenvolver o carro, feitas ao longo dos últimos dez anos. A patente, Ximenes afirma ter registrado há seis anos. O carro, em si, foi construído nos últimos oito meses.

O inventor explica ainda que, embora seja possível instalar a novidade num carro comum, essa não é a intenção dele. "Queremos que a tecnologia seja absorvida por uma montadora e possibilite uma linha de montagem no Ceará, onde temos apoio do governo estadual", diz o engenheiro, que também é secretário da Câmara Setorial de Energia Eólica do Ceará. Ele afirma ter recebido, há 20 dias, a visita de dois funcionários de uma grande montadora americana interessada no projeto, mas não quer dizer qual é a marca.Se fosse instalada como opcional num carro pronto, a tecnologia custaria entre R$ 9 mil e R$ 20 mil. O menor consumo compensaria o investimento, segundo Ximenes, após 24 meses.

O carro foi apresentado oficialmente em junho, durante a Inova 2011, uma feira realizada em Fortaleza (CE). O "quadriflex" foi premiado no evento, que havia sido aberto por Aloizio Mercadante, ministro da Ciência e Tecnologia. "Ele viu o carro e adorou", afirma o inventor.  Ao contrário dos veículos híbridos, o "quadriflex" não é ligado na tomada para recarregar. Mas o modelo, na verdade, é um intermediário, conta o criador. "Nossa ideia era desenvolver o primeiro carro elétrico auto-sustentável, que seria somente solar e elétrico e nunca precisaria ser ligado na tomada", conta ele, enquanto brinca com o painel fotovoltaico instalado em cima do veículo. "É o primeiro 'teto solar' de verdade, né?", diz. "Mas as pesquisas continuam", garante.
Segundo Ximenes, a energia extra também reduz em até 40% as emissões de CO2 do veículo – e aumenta em 6% o torque do motor. "O Ceará é um exemplo de geração de energia limpa", orgulha-se. Ele lembra que, já em 1978, um cearense tentou fazer o primeiro carro movido a água do mundo.

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