terça-feira, 19 de abril de 2011

Novela Amor e Revolução causa polêmica

José Guerra é filho de militar. Maria Paixão é líder de movimento estudantil e comunista. O ano é o de 1964, e a ditadura militar é a realidade política do Brasil. A história de amor à la Romeu e Julieta não pegou ainda o espectador. Na verdade, os pontos de audiência têm começado a subir devido às cenas fortes de tortura e a repercussão polêmica que elas têm causado.

No ar desde o último dia 5, desde o dia 1º de abril já existe, na Internet, um abaixo-assinado criado pela Associação Beneficente dos Militares Inativos e Graduados da Aeronáutica (Abmigaer) que pede a censura à novela Amor e Revolução, do SBT. Assinado por José Luiz Dalla Vecchia, o documento acusa o governo federal de ter feito um acordo com o SBT para que a emissora apoiasse a Comissão Nacional da Verdade criada por Dilma Roussef, cuja finalidade é esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos durante a ditadura, em troca do perdão das dívidas do Banco Panamericano, de Silvio Santos.

Como reação às críticas, o SBT veiculou, no último dia 9, uma chamada de cinco minutos com cenas da trama e um texto que dizia: “Só o SBT tem a coragem de passar a limpo a história recente do nosso País”. Também em repúdio ao abaixo-assinado dos militares, os telespectadores criaram uma petição online pedindo o direito de ver a novela completa, sem interferências dos pretensos “censores”. Até o fechamento desta edição, eram 731 assinaturas apoiando os militares e 1.913 a favor da novela. O abaixo-assinado dos militares será encaminhado ao Ministério Público. O governo federal não se pronunciou a respeito da acusação.

Tiros, explosões, sangue e discursos panfletários à parte, é no final de cada episódio que reside o calo no pé de quem não quer revirar o baú da ditadura. O problema maior mesmo é que, ao final de cada episódio, uma pessoa que foi torturada

ou teve uma vivência – quase sempre negativa – nos anos de chumbo, aparece lá contando sua história real. O primeiro depoimento foi de José Dirceu.


O lado da ficção reage
Tiago Santiago, autor da novela comentou o caso: “Esse abaixo-assinado está desinformado. A Comissão da Verdade nem foi aprovada ainda! E, de qualquer forma, a novela nada tem a ver com a Comissão da Verdade. É um projeto meu que já tem 15 anos, criado na época em que eu trabalhava com o Herval Rossano na TV Globo. Não podem dizer que estou denegrindo a imagem dos militares, o próprio herói é um militar democrata. A novela tem esquerdistas, militares de direita, democratas... Eu não coloco todos os militares no mesmo saco dos torturadores, não. Amor e Revolução não é uma trama contra militares. Isso é uma tentativa de censura, o que é inconstitucional. Isso é um protesto desesperado de gente que tem o rabo preso, gente que não quer ver esses depoimentos com medo de que algo aconteça a eles. Tirar a novela do ar só interessa a quem tem medo! A grande maioria dos militares está gostando da novela”. Reynaldo Boury, diretor de Amor e Revolução, foi mais ameno: “O espaço do depoimento na novela não é só da esquerda, está aberto a todos os segmentos da sociedade. Quem se sentir prejudicado, pode nos procurar que terá o mesmo espaço para responder”. Licurgo Spinola, o ator que interpreta o revolucionário Batistelli, aderiu ao movimento pró-trama, assinando o abaixo-assinado. “A época da caça às bruxas já acabou. Quando vi esse movimento de apoio à transmissão da novela, quis participar. É um absurdo acharem que uma ação contrária vai ter voz. A ditadura faz parte da história que alguns querem deixar de lado, fazer disso um tabu. O que me preocupa é saber que há pessoas tão reacionárias, castradoras”, disse.

Amor e Revolução
De segunda a sexta, às 22h30min


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