Chegou para sua mãe e foi direto ao assunto:
- Mamy, seguinte é esse: seu filhim quer se mandar daqui!
A mãe não entendeu e pediu explicações:
- Mas peraí, Chico Nilo, será que eu ouvi direito?
- Ouviu, mamy! Eu num tô mais afim de ficar num lugar só pagando bronca!
- Agora foi que eu num entendi nada!
- Os homens da lei num podem me bilar que vão logo me tirando de campo!
- Tirando de campo?
- Eles me levam pra interrogatório pra que eu diga quem roubou isso e aquilo outro!
- E tu quer ir simbora pra donde, meu neném?
- Tô pinotando nesses dias pro Rio! Se preocupe não que eu tem conhecido por lá!
E o malaca pegou a reta. Ao chegar no Rio, foi bater na casa de uma ex-amante. E no caminho passou por uma dessas igrejas que nasce todos os dias. A voz do pastor lhe chamou a atenção. Resolveu entrar e logo percebeu que era um companheiro de profissão, o malandro do Agulha, que dava o seu recado. Depois que o tal culto terminou, caminhou em direção ao Agulha e falou:
- Diga aí, mermão! Tu tava demais! Sabia que eu chorei?
O Agulha se fez de desentendido:
- Mas quem é o irmão? Sim, porque se está assim tão feliz é porque o belzebu deixou teu corpo, aleluia!
- Qualé, Agulha! Num vem com esse papo de retardado pra cima de mim! Eu posso te entregar, sacou?
- Bicho, que marmota é essa? Cumé que foi que tu me achou aqui?
Depois das devidas explicações, o Chico Nilo ficou também sendo pastor da Igreja. O malaca ia bem. Mas cismou de rever a mãe. Com um carro importado saiu do Rio. Três dias depois estava chegando em Fortaleza. Mas aí deu problema: um pneu estourou e ele teve que descer para trocar. E quando estava debaixo do carro colocando o macaco, percebeu um sujeito na frente do carro roubando sua pasta contendo muita grana e outros objetos. Falou alto:
- Ei, fuleiragem, que onda é essa? Tá me estranhando?
- Fica na tua, vagaba, se o teu negócio é pneu o meu é outro, tá sabendo?
- Mas esse carro é meu, né roubado não!
O outro vagabundo não levou a sério. E continuou o seu “trabalho”. Chico Nilo se invocou e teve início o quebra-pau. Mas se ferrou: o cara deu uma dentada violenta na orelha esquerda que arrancou bem no tronco. Socorrido por populares foi levado ao hospital onde os médicos estão tentando fazer um implante. Sempre ao lado dele, dois policiais, estão à espera de que a orelha volte para o lugar de onde nunca deveria ter saído.
- Tu vai colaborar com a gente, amizade!
- Os malandros de lá fizeram um assalto do cacete por aqui!
- Cumequié? Hãn? Sacomé, autoridade, dá um tempo! Eu só ouço bem com a orelha que foi arrancada!
Mas o impante já está sendo providenciado. E o malandro vai ter que abrir a boca. E ouvir perguntas nó pé do ouvido. Ou melhor, da orelha nova de novo…
Sales Andrade do Diário do Nordeste
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